sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ela III

Para aqueles tempos, uma verdadeira dama não devia andar por aí com olhos tão verdadeiros. E bem no fundo, ela sabia disso. Tentou ser igual as outras; vestia-se bem, tocava piano fingindo algum amor; tinha os gestos, as caras, os trejeitos necessários.

Perdeu boa parte da alma para ser uma donzela descente. Mas seus olhos...Vivos demais, sinceros, tinham um brilho muito verdadeiro para aquilo tudo.

Pensou em arrancá-los. Mas dilacerar o que restava da própria dignidade, ela não agüentaria.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ela II



Prometera a si mesma, nunca mais dançaria para eles. Estava de saco cheio, estava seca. Vendia sexo do melhor e sodomias inimagináveis, vendia amor verdadeiro, compreensão, obediência.Transformava pobres coitados em hérois. Mas no final do dia, nas manhãs geladas mais do que nunca, tinha as ancas feridas e nenhuma retribuição do amor e compreensão deixados para trás. Ninguém por ela, e nem para ela. Sentia-se...Quase vazia.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ELA I




Ondas alucinadas chamavam para o banhar, mas ela estava apaixonada e resolveu pegar a estrada. Saiu cedo, bem cedo, esse era seu horário favorito, tudo cheirava melhor e era mais fácil encontrar alma nas pessoas e nas coisas. Isso é o que procurava – alma, vida, algo real o bastante para faze-la sorrir. Talvez, um outro sorriso já valesse a pena. Sozinha, preferiu assim, e não mandaria muitas lembranças. Se perdesse tudo que tinha... Ela pretendia perder...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bukowski


Toda aquela cerveja canadense e frango frito descendo sem parar, a cerveja parecendo vodca, deixavam claro; dali a pouco tudo iria apagar. Tinha perdido minha dentadura, achei-a depois, havia caído em uma poça de vômito cheirando a queijo – primeiro a dentadura, depois o respeito próprio, eu podia viver com isso. Mas o que é que eu ia dizer em casa quando chegasse com a alma estragada de tanto álcool e meu nariz vermelho, e ainda, sem meus dentes? A bebida descia e eu já estava todo mijado, os rapazes e as boas moças no bar pareciam não se importar.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Palavras de esperanças Cósmicas




Suas poucas palavras deixavam esperanças cósmicas. Conhecia a origem das coisas e dos astros. Sentado por horas no telhado percebia os nobres caminhos estelares cheios de alegrias imaginárias, provando descontinuamente sons imaginários cor de rosas cheirando um doce rasgado por cometas silvestres, amigáveis o bastante para cometer um ritual amoroso de calores divinos; encostados um nos outros trazendo as liberdades encantadas de uma noitada louca ao lado de shamans gurus indígenas filhos de Maira, e avôs de almas ensopadas por caminhos astrais tão antigos quanto as vidas de galáxias irmãs brilhantes e nunca desvendadas por bestas voadoras aliadas a marcianos feitos de massas cerebrais enormes ocupadas por veias cravadas em nervos superdesenvolvidos e inteligentes o bastante para entender sobre montanhas, carrosséis, mundos livres e ética. De um jeito todo especial e diferente; como Mozart saltitante dessacralizando Deus todo poderoso-pai-filho-espírito santo-irmão na cara de Salinieri, que louco como uma porta louca sem valor, matou Amadeus por suas óperas de ironias saltitantes vindas com os deuses, os lusos e os hispânicos, botando tudo nas naus de sangue negro até a edenização daquele mundo nu poligâmico, comedor da própria carne humana. Se perguntassem pela reforma recebiam farpas e eram fincados e amarrados com pregos corroídos pelo tétano que acabava por matá-los todos e pior, retiravam suas almas, dilaceravam qualquer forma de prazer e qualquer sentimento pouco próximo do amor. No fim das contas tudo era uma grande desculpa para desejar sair dessa vida sofrida, permanente rodeada dos piores castigos possíveis – chicote com pequenas astes de metal que no final mamavam licor vermelho de todos os subjugados pobres algemados espiritualmente por correntes de ódio e de dominação bárbara, onde até as próprias mães achavam justo os filhos sendo dilacerados. Pobres coitados mais sujos que merda; sem dignidade, sem nada que lhe vestissem de algum respeito. Cheios do pior tipo de estrume ralo, esverdeado.
Isso sim, eram palavras de esperanças cósmicas.

sábado, 22 de agosto de 2009

Ela vai acabar com você



Ela vai te fazer cair na bebida, te levar ao jogo, perder casa, carro, divórcio - vícios que acabariam com você. Ela sempre entrega tudo, o corpo, a cabeça, desejos e anseios...a dignidade. Cada trepada, um sacrifício, sem cansar. Vende a si própria por alguns minutos, segundos, de carinhos cheios de paixão falsa acolhedora. Você vai ser domado por tamanha entrega, ela aceitando tudo, trazendo no rosto a cara de ordinária apaixonada. Farão amor nos lugares mais desajustados, sob circunstâncias completamente fora do normal. Você lembrará desses momentos suculentos quando 20 ou 10 anos depois estiver sem vontade alguma de tocar sua esposa sem graça, sem tesão, sem qualquer capacidade de te excitar. Não culpe sua mulher honesta. Foi a devassa devoradora que acabou com você. Te transformou nisso, vergonhoso, a ponto de negar amor verdadeiro (a esposa apaixonada) por vaginas alheias perigosas, buscando o gosto genital que há anos te deixou. Pra ela era fácil dar tudo, ela sempre dava, deu mil vezes, quanto mais entregava, mais podia. Dar, pra ela, era a melhor parte do sofrimento. Mesmo quando o macho à arrastava pelos cabelos, ela morria de prazer, com seus gritos de raiva e jurando nunca mais deixar aquele porco toca-la, ela morria de prazer, chorando, rosnando por humilhação, encharva-se por dentro, gozava como nunca. Quando ia embora, nós, que acabávamos de entregar a nós mesmos, ela só queria um próximo para ter mais. Perdidos, nunca nós entregamos assim, e agora que entregues, ela sumia. Suas perversões foram despejadas nela e você teve os melhores orgasmos. Agora, que sua esposa é algo morto na cama e seu pau nem sabe se conseguirá ficar duro, percebemos. Aquela fêmea faminta nunca nos amou.

sábado, 1 de agosto de 2009

Ai Chico... (versão musicada)


Todas as mulheres querem dar para Chico Buarque...

O amante dos sonhos de toda alma feminina,
Seja para uma jovem,

Que esta começando agora

ou sejá para uma viúva

que também quer sentir amor

As casadas,

também o querem

e fariam as mais diversas travessuras.

E as vagabundas, bem, essas aí, querem todo mundo.

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Chico, após beber algumas taças de vinho e lançar doces palavras em seu ouvido, com os olhos azuis pregados aos seus, a convidaria para ir à sua residência em Paris, escutar um pouco de MPB.
(falado)


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Você aceitaria,

dando uma risada,

exclamando bem gostoso “Ai Chico! Só você mesmo!” ou então “Ai Chico!

Pare de brincadeiras bobas. Eu ir na sua casa! Imagine...”

A partir daí,

você tá dominada.

Cairá encantada nos braços do sambista

e tenha certeza,
será devorada
por aquele sorriso charmoso e carioca.

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Se alguns dias depois, ele falar que compôs algo pra você, saiba, a senhorita foi uma impecável fera na cama e esses tipos de dotes, Chico sabe valorizar.
(falado)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ai Chico...


Todas as mulheres querem dar para Chico Buarque...

O amante dos sonhos de qualquer alma feminina. Seja para uma jovem adolescente em fogo descobrindo Chico e os primeiros passos do amor carnal, ou uma viúva que tenha perdido o marido velho e gordo e agora deseja perder-se em uma vida libidinal e com sentido. As casadas também o querem, fariam com ele travessuras inimagináveis. E as vagabundas, bem, essas aí, querem todo mundo.

Chico, após beber algumas taças de vinho e lançar doces palavras em seu ouvido, com os olhos azuis pregados aos seus, a convidaria para ir à sua residência em Paris, escutar um pouco de MPB. Você, já molhadinha de expectativas, aceitaria, dando uma risada, exclamando bem gostoso e sensualmente “Ai Chico! Só você mesmo!” ou então “Ai Chico! Pare de brincadeiras bobas. Eu ir na sua casa! Imagine...” A partir daí, você estará dominada. Cairá encantada nos braços de Chico e tenha certeza, será devorada por aquele sorriso charmoso.

Se alguns dias depois, ele falar que compôs algo pra você “Ai Chico! Não acredito, só você mesmo”, saiba, a senhorita foi uma impecável fera na cama e esses tipos de dotes, Chico sabe valorizar.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Tara de um Amor Inabalavel (CRÉU)



Clara Nunes...
Levantou naquela terça-feira,
em chamas.

Tinha resolvido mudar de vida,
você sabe,
arrumar um homem,

se satisfazer sexualmente.
Ela queria amor.

Batom,
perfume vaginal
e um decote matador,
ela estava demais.

Clara Nunes...
Prestes a se apoderar daquela noite,
essa,
toda regada de prazeres libidinais.

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Rafael Arthur...
Tinha decidido,
iria abandonar toda a sua coleção de filmes pornográficos, (asiáticos)
e arrumar uma mulher
mas tinha que ser gostosa,
tinha que ser boa de cama.

Rafael Arthur...
Empresário de sucesso no ramo imobiliário,
um tremendo taradão!

Mas,
esse tipo de vida cansa
e ele,
como Clara Nunes,
também queria se apaixonar.

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A noite prometia ser infernal,
endiabrada, inesquecivelmente bêbada,
maltrapilha e maltratada,
do jeito que qualquer safado ou safada alcoolizada gostaria de ter.


Rafael,
se apoderou do mais românticos desejos,
puros
e Clara Nunes era uma gata apaixonada.


Ele,
entra no bar,
assim, como quem não quer nada,
esperando um olhar sedento de prazer convidativo.
Ela,
logo sente cheiro da mais adorável sacanagem fervorosa.
Olhares encontram-se,
sugam-se,
dominam-se.

A partir de agora,
Clara Nunes pertence a Rafael
e Rafael pertence a Clara Nunes.
Nós amamos todos vocês...

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Alguns anos passaram,
Gabriel e Mariana nasceram,
gêmeos univitelínios,
ninguém sabe como sobreviveram -
Frutos de um tesão inigualável, espacial,
QUASE CÓSMICO!!!
Um tesão que todos nós aqui presentes
gostaríamos de sentir,
pelo menos uma vez em nossas vidas.

Essa é a canção Tara de um Amor Inabalável CRÉU. Uma epopéia pouco formal, onde duas almas sedentas por comunicação sexual saudável, encontram e perdem-se dentro do maravilhoso pecado, que é o amor.

Até a próxima...


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Prefácio da canção Tara de um Amor Inabalável CRÉU!


(Marcha Militar)

“Atenção!”

(A marcha silencia)


“Sentido!”

O major Deodoro da Fonseca proclamou a República, mas tomou um tremendo nabo...No cu.


Foi pra casa, com dor de cabeça e em outras partes do corpo, pensando “É Major...Dessa vez o senhor de fudeu!”.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Façanhas Cubanas III - SELVAGERISMO PLENO



Em Cuba, até certo ponto, é possível considerar-se um cidadão respeitável. Mas quando as contas de quantos dias sem dormir por mais de três abençoadas horas já nem existem mais, a alimentação há muito, já deixou de ser algo importante e seu psicológico, completamente abalado por fatores aterradores que vão desde cubanos canibais te esperando aos montes na saída da rodoviária para tentar arrancar algum dinheiro de você, até produtos maldosos da sua própria mente como imaginar a todo o momento que você perdeu seu passaporte e ficará preso naquela ilha macabra e deliciosa para sempre e mesmo assim, resolve sentar em um bar rodeado do pandemônio viral, de toda aquela música de Santiago causadora de emoções lisérgicas, é o mesmo que mandar pelo ralo todas os princípios morais que carregava até então. É nesse momento que perdem-se da sua alma os valores que pais e mães tentaram te passar durante anos.

A partir daí, você não está mais no controle, muito menos é alguém digno de alguma afeição humana, a menos que ela venha de alguém tão deprimente quanto você – ao resolver perder-se nas cervejas tenha certeza que terá companhia.

Não será preciso muito mais que três latas. É impressionante a potência que essa bebida tem quando não nos encontramos nos nossos melhores dias. Tudo se resumirá em sorrisos avantajados e cenas deploráveis, depois disso, haverá tropeços em seus próprios pés, o que o obrigará a andar de quatro pelas ruas – aposto que se você achava que merecia algum respeito, não acha mais, certo!? – o melhor é fingir que está pegando algo no chão, mas o mais importante ainda será manter-se sempre sorrindo. O calor úmido, tremendo adversário em todas as nossas façanhas, só tornará tudo menos bonito. Em dado momento abrir os olhos será impossível, sem preocupações, isso nem será notado por você. Mas encontre sua consciência bem lá no fundo do seu fajuto e nada em ordem eu-interior para não começar a sair dançando de cueca pela casa em que estará hospedado. Mesmo sendo algo tentador isso não é um costume em Cuba.

Planeje tudo para viajar no mesmo dia. A atmosfera frígida do ônibus acalmará essa primitividade nada enlouquente e nada cativante e em pouco tempo você já terá alcançado os céus no meio de um pesado sono todo cheio de roncos satisfeitos.

O verdadeiro terror começará quando acordar...


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Façanhas Cubanas II - A PEREGRINAÇÃO



Steven Seagal interpretando o mesmo policial renegado durão tímido e mortal de sempre, que ainda encontra dificuldade para falar sobre amor, enfrentando dente por dente a máfia russa de prostituição infantil, era tudo que eu precisava para aquela viajem de 12 horas que estava por vir, de Trinidad a Santiago de Cuba. O carregador de malas confundiu-se com nossos bilhetes – devíamos estar realmente loucos para tentar fazer uma peregrinação daquele porte, por selvas socialistas pouco desbravadas. Não sabíamos o que esperar, mas havíamos decido: estamos nessa até o fim.


É preciso muita fibra para fazer o que Seagal estava prestar a começar. Os russos são da pesada, cheios de olhares secos nórdicos e bafos de vodka, eles não brincam em serviço. Russos carnívoros, esses sim, são os mais inescrupulosos.


Cuidado Seagal! O senhor deve saber, suas andanças pelos territórios dos delinqüentes asquerosos hollywoodianos são lendários, mas lembre-se, e isso é quase uma súplica que faço, aprenda ballet. Os russos não agüentam, pedem misericórdia a quem quer que seja e no final, se é que sobrevivem ao processo, estão acabados – dados por vencidos, como pobres coitados. Se de Trinidad há Santiago são 12 horas, dou-lhe a metade da metade disso para que esses porcos louros aproveitadores de criancinhas estejam agonizando. Não! Faça pior que isso.


Pela seriedade com que mergulhei na fantasia do filme pude ter certeza que minha capacidade de fazer qualquer juízo de valor, de ética, de bom senso e de quaisquer outros pontos importantes para poder considerar-me um cidadão respeitável estavam abalados. Não que já não estivessem antes, mas essa completa falta de equilíbrio me colocava em uma posição de total falta de controle e total falta de controle em situações onde russos malditos estão a espreita não é algo que alguém realmente preocupado com boas maneiras e estabilidade mental preze.

Ao desembarcarmos em Santiago de Cuba, tomou forma sobre nós uma cena psicodélica, mas não hamorniosamente psicodélica como dançar tango peladão e alucidado com sua donzela amada, mas psicodélica a ponto de fazer muito mal ao estomago. Um taxista e seus pelos do peito, das costas e do pescoço saindo pra fora de sua camisa regada apertadinha, o que deixava tudo mais glamouroso, pois ele era um tremendo gordinho, nos arrastou para seu táxi. Uma banheira velha que nem sei como as portas abriam ou ainda estavam lá e falou que nos levaria a casa em que ficaríamos hospedados, mas antes, é claro, ele teria o maior prazer de levar-nos à sua própria casa e talvez pudéssemos decidir ficar por lá e ao mesmo tempo em que falava, ligou em volumes colossais uma dance music que me parecia ser de meados da década de 90, um período bem negro. Nesse momento quase perdi as esperanças. O tranqüilizador pensamento de que em Cuba não há armas e ninguém fará mal físico a você desapareceram. O calor úmido, vetor de todo o suor, em nada floriam a situação em si.

O mais incrível de toda a travessia foi chegarmos a salvo em uma casa rodeada por uma atmosfera familiar incrível, com duas crianças completamente angelicais, de sorrisos encantadores, o que me fez, pela primeira vez na vida, pensar que a possibilidade de me casar e ter filhos poderá soar um pouco atrativa algum dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Façanhas Cubanas I - EXPLORADOS



“É o seu cinto, tire-o”.O vigilante latino não mediu as palavras, palavras ásperas, pouco sensíveis e duras e que soavam mais como ordens, nenhum pouco flexíveis, nas quais meu camarada, sujeito digno, um cidadão respeitável, obedeceu com o olhar de quem sabe que aquele será um longo dia e as opções não são nada muito divinas. Amaldiçoamos toda tecnologia e lentos processos nos rodeando e embarcamos.

Pense o que quiser, um vôo de Belo Horizonte ao Panamá, saindo ás 4:28 da manha ainda sim é muito suspeito. Tentava refletir sobre isso, mas eis que surge Rosa. Bela Rosa! Panamenha, graciosa como mel e tequila em noites vivas estreladas. A aeromoça que qualquer rapaz em busca de aventuras e façanhas lendárias sonharia em fugir junto. Rosa, você ficará para sempre em mim. Eu e você, você com castanholas apaixonantes, tornaremos real aquilo que os cristãos chamam de amar verdadeiramente até que a morte nos separe. Sim Rosa, você terá as mais fervorosas alegrias...


No vôo, tentando explicar a minha mente que aquela atmosfera selvagem não era digna de preocupação e estava tudo bem com o piloto, mesmo se ele tivesse uma vida inútil e soubesse disso, botar aquela maquina voadora abaixo matando todo mundo, só pelo motivo de ter tido um dia pior que o normal, não aconteceria. O rapaz com certeza tinha ética profissional, imaginei. Mas experimentos recentes ligados a praticas espirituais pouco convencionais impossibilitavam minha mente de encontrar algum bom-senso em algum lugar.


Meu camarada, também alucinado por Rosa, todos exalavam desejos por ela, já tinha partido para generosas doses de wiskey puro. Dava para ver, a grande altitude e o álcool causavam um efeito nele. Tudo que falava era acompanhado de largos sorrisos e expressões abstratas. Pensei em começar a beber, mas o medo de que as coisas tomassem um rumo ainda mais excêntrico me segurou. Tomar uns tragos naquela situação, no meio de um vôo que poderia muito bem ser uma farsa, acabaria criando um tipo de paranóia, na qual venho tentando evitar desde das noites asquerosas, perdido no meio de cidades, onde a principal atração turística são seres cabeçudos verdes pouco humanos – você sabe que não tem escapatória, mas o que faz tudo desabar mesmo, é saber que não tem para onde ir se algo começar a pegar fogo, ou se animais selvagens resolverem dar as caras.


NÃO É POSSÍVEL COMPRAR CHAPÉU PANAMÁ NO AEROPORTO DO PANAMÁ. Isso quebra qualquer caneta.

Se alguém sabe o que é terror paranóico seguido de doses cavalares da certeza de que o pior vai acontecer, então entenderá o que senti na primeira experiência social em Havana. Eu e meu camarada, dois joviais e bem humorados rapazes, sorridentes e entorpecidos por testosterona, pessoas inofensivas, esperávamos para passar pela imigração cubana.

“Raul, Gregorio, vocês vem de Belo Horizonte, não é mesmo?” – isso em um espanhol autoritário que não deixa ninguém à vontade, ainda mais quando é alguém armado usando-o. Como ele sabia tudo aquilo?

“Vocês vão para as Bahamas?” – QUE? Pra onde? Aquilo já estava indo longe demais. Eu estava errado, ainda ia mais longe.

”Raul, você tem família nos Estados Unidos? Morou lá quanto tempo?” Sempre dávamos as explicações mais sinceras possíveis.

”Vocês vão para as Bahamas?” Repetia as mesmas perguntas todo o momento e nós já havíamos respondido em inglês, espanhol e português.

”Você tem família nos Estados Unidos, Raul?” – Ele não desistia. Vigilante durão.

”Bem vindos a Cuba!” – De repente ele vai embora. E eu tinha a certeza de estar sendo muito bem vindo.

PORRA! Venho dar uma forcinha pro comunismo, saber qual é, ver as atmosferas sociais desse lugar, e me tratam assim? Bem vindo a Cuba. Muito bem vindo a cuba, senhor cubano vigilante policial durão, usando táticas de questionamento nada encantadoras, que fariam qualquer um cair em plena desgraça emocional, colocando em meu espírito um terror absolutamente devastador para minha pobre alma, que já é paranóica o bastante por si só e deixando meu corpo em um tremedeira, que para passar pela imigração, eu agia de forma tão amedrontada e pouco convencional que tinha certeza: não deixariam entrar no país um ser com modos e ações tão fora da realidade, um indivíduo nenhum pouco senhor de si como eu parecia no momento.

A partir dali, minha consciência tornou-se hesitante e eu começava a ficar preocupado. Bem, aqui o barato não é a liberdade, estamos em uma ditadura, se quiserem enfiar meu rabo em uma prisão sem ter que respeitar nada, eles podem e nada os impedirá de fazer isso. – Algum tempo depois, conversando, discutindo e lendo, deixei essa preocupação de lado e comecei a pensar que a onda não é tão pesada assim. E realmente não é.

Mas esse pensamento tomou conta de mim nas primeiras horas em Cuba. Do aeroporto até onde dormiríamos, juro que tentava, mas não conseguia refletir e nem ter primeiras impressões sobre Havana, imagens, prédio, pessoas, mar, Malecón, nenhuma idéia inicial. Passei boa parte da viajem pelo ar lembrando-me de ver se o outdoor com Ho Chi Min proclamando fazer um Vietnã 10.000 (???) vezes melhor ainda existia por lá, perto do aeroporto. Nem lembrei – o outdoor não está mais lá, Fernando Morais, na última edição do interessante livro “A Ilha”, afirma isso.

Tudo aquilo com o vigilante cubano armado foi um trauma muito pesado. Para uma recuperação digna seria preciso muito RUM...e garotas encantadoras.



segunda-feira, 6 de julho de 2009




Meu cérebro já se encontrava corroido demais na busca por pontos mais interessantes, que seriam tão inúteis como os de agora, caso fossem encontrados.
A coragem veio - UFÁ! A safada costuma me abandonar nesses momentos cuidadosos em que se você não tem coragem, nada toma forma - perguntei:
Qual o seu lugar favorito para fazer amor?
"Qualquer um, desde que seja com a pessoa que se ame."

Nunca mais nos vimos.
E eu até que gostava um pouco dela.



They all come from Alabama
thousand and thousand bottles of wine
And I paying for that...
Its not a party
Its my dying day
(barato é rápido e a vida é loka)
Quem perdoa?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Minimalistas Safados


(desculpe a formatação. problemas com o editor)


Aqueles minimalistas safados. Sentam na frente do piano, arregaçam as mangas – todo mundo quieto, olhando – estalam os dedos, gargarejam e começam a repetir umas glamourosas notas. Puro fervor hipnótico! Frenético, na maioria das vezes. Logo logo, os cabelos da platéia já estão de pé, nem as marchas alemães chegam perto, quando falamos dos espantosos desesperos musicais, como os que esses infernais eruditos são capazes de despejar por ai.

CURIOSIDADE: Essa fórmula da música minimalista – a repetição de notas, por longos períodos de tempo, com pequenas nuances – não deve nos espantar, se pensarmos que isso é, justamente, a raiz da música eletrônica...RELAÇÕES, BELAS RELAÇÕES! A partir do minimalismo, para se chegar ao som eletrônico, só é necessário alguns sintetizadores e outros bons alucinógenos na cabeça.


Mas Win Mertens ainda ultrapassa o movimento minimalista criando também melodias, muitas vezes apenas com um piano, ou cravo. A harmonização dos corais usados em algumas das músicas é divina. Ao mesmo tempo em que as vozes parecem ligadas aos sopros e aos outros instrumentos, há uma desenvoltura quase autônoma por parte delas.


Sua mágica é tão cósmica – essa palavra encaixa-se bem para tantas intenções de difícil descrição – que consegue nos amarrar por completo ao mockumentario pseudo-histórico, composto apenas de fotografias e textos, Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos, dirigido por Marcelo Masagão. A trilha sonora, músicas de Win Mertens e alguns efeitinhos criados por André Abujamra, é o que realmente nos faz perceber o filme e sua interessante idéia.



No final das contas, esse belga genial chega a um dos pontos máximos propostos pela música erudita: deixar aquele sentimento magnífico (desconhecido, mas ainda sim, magnífico) em nós.




Para baixar obras de Win Mertens
(http://rapidlibrary.com/index.php?q=wim+mertens)

Dicas:
*Álbum Win Mertens The Best of
*Músicas Struggle for Pleasure e Their Duet

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Old Man Plays some BLUES



Hey boy...
I know you had your ladies,
Some pretty ones as we see.
I know you had some fun around...
Yeah...you did.

But, listen to me this time, boy
When she is gone
And all you think about is the dirty woman that just left your heart broken.
Drink!
Drink all the booze you can...


And always remember,
In the end, the only real thing you got...IS THE RHYTHM AND BLUES

O sermão ocasional!


Código de ética do bom moço tomado de empréstimo por alguns safados



Mentirás
Trapacearás Blasfemarás Treparás
E (não) irás à igreja.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Amor e Animais



Continua. Eu mato você se parar.
Gosta disso, não é mesmo sua safada?
Ai! Sim, sim...Toda hora! Mais rápido. Ai...Mais rápido..hummmm.
Você, todinha pra mim. Assim...
Você me quer?
Quero...
Você me quer, seu merda?
Quero!
– Os corpos suadamente excitados, conectados. Um deslizar voraz. Delicioso.
Mais fundo, vai. Vai...Está me matando. Mais. Mais.
Hmmm. Hmmmmm. (alívio e paraíso)
Isso! Dentro de mim, vai, vai...Ahhh! Como é gostoso... (poderia ter demorado um pouco mais)
.
.
.
.
.
Vamos de novo? (cabelos no rosto)
Venha cá...(sorriso sacana)

(O AMOR É LINDO)

domingo, 31 de maio de 2009

Right Time for a killer Blues



two bottles of wine
and a hot mama by my side
thats all i need, boy
for a killer blues time



Continue, se quiser...

sábado, 30 de maio de 2009

Pra Falar a Verdade...

Tocavam todos os clássicos. Só clássicos de Rock. As garotas, com as cervejinhas em mãos, adoravam. Tocar exaustivamente sempre as mesmas músicas era um glorioso sacrifício para aquele bando de macacos bêbados. Prostituição plena. Sucesso garantido. Tudo o que queriam. Por noites sentiam-se os maiorais, astros, deuses. Oras, qualquer um, tendo oitenta outros cantando junto, cairia na decadente hipocrisia de ser achar um deus. Deus de um tanto de babacas.

Entretenimento delicioso era o vocalista. Bêbado. Tentando parecer que entregava muito mais que a própria alma para a música, acabava nos oferecendo de bandeja um tremendo paspalho. Pulava, caia, babava. Tudo isso, em um espaço minúsculo, que não cabia nem ele mesmo deitado. Meu Deus, que macaco mais bem treinado esse! Ainda, piorando, berrava frases sem sentido “Aí Marquinho, você é o cara!”. O Marquinho era um gordo tosco. Mas aposto que tinha um bom coração, e no final das contas, é isso que importa, não é mesmo? Tinha uma outra fala hilária “A gente [referência à banda] não seria nada sem vocês”. Coitados.

O resto da banda não ajudava, mas eram corajosos. Faziam caras e bocas e poses “nos estamos mandando brasa”. Eram bons músicos.

Eram bons músicos! Eram boas pessoas, tocavam com perfeição e mereciam todas as carícias das moças bem apessoadas na platéia. E as músicas eram realmente empolgantes. Não eram prostitutas. Mereciam aplausos. Pra falar a verdade, é uma merda aplaudir quem pode comer todas as garotas depois do show.

domingo, 24 de maio de 2009

Clarice Lispector E Tom Jobim entrevistam-se cosmicamente. MÚSICA , MORTE , VIVAS


Trecho retirado da biografia Antônio Carlos Jobim, escrita por Sérgio Cabral.

Ao abrir a entrevista, Clarice lembrou que já conhecia Tom há muito tempo: fora seu padrinho no lançamento do livro Maçã no escuro, no primeiro Festival de Escritores. “Ele segurava o livro e perguntava: ‘Quem compra? Quem quer comprar?’. Agora, ele chega bonito, simpático, com um ar puro maigré lui, com os cabelos um pouco caídos na testa. Um uísque na mesa e começamos a entrevista”. Sendo Clarice Lispector uma romancista especializada nas incursões ao interior da alma, abriu a entrevista querendo saber as relações de Tom Jobim com a morte. “A morte não existe, Clarice. Tive uma [uma com h: huma] experiência que me revelou isto. Assim como não existe o eu nem o euzinho nem o euzão. Fora essa experiência que não vou contar, temo a morte 24 horas por dia. A morte do eu, te juro, Clarice, porque eu vi.”A escritora lembrou a frase de Bernard Berensen que ilustrou um dos seus livros: “Uma vida completa talvez não seja aquela que termine em tal identificação com o não-eu que não resta um eu para morrer.” Comentário de Tom: “Isso é muito bonito, é o despojamento. Caí numa armadilha porque, sem o eu, eu me neguei. Se nós negamos qualquer passagem de um eu para o outro, o que significa reencarnação, então o estamos negando.” Clarice: “Não estou entendendo nada do que estamos falando, mas faz sentido. O que é que você acha do fato da liderança do mundo estar hoje nas mãos dos estudantes?” (1968 foi o ano da revolta estudantil de Paris e de inúmeras manifestações de estudantes no Brasil, inclusive “a marcha dos 100 mil”.). Tom: “Acho que não podia ser de outra forma. E que venham os estudantes. Vladimir [Palmeira, líder estudantil] sabe disso. ”Quando Clarice Lispector propôs conversarem sobre o confronto arte versus sociedade de consumo, Tom respondeu: “Viva Oscar Niemeyer! Viva Vila-Lobos! Viva Clarice Lispector! Viva Antônio Carlos Jobim! A nossa, Clarice, é a arte da denúncia. Tenho sinfonias e músicas de câmera que não vêm à tona. A criação musical em mim é compulsória. Os anseios de liberdade nela se manifestam.” Clarice: “Liberdade externa ou interna?” Tom: “ A liberdade total. Se como homem fui um pequeno-burguês adaptado, como artista me vinguei nas amplidões do amor. Você desculpe, eu não quero mais uísque por causa da minha voracidade. Tenho é que beber cerveja porque ela locupleta os grandes vazios da alma. Ou pelo menos impede a embriaguez súbita. Gosto de beber só de vez em quando. Gosto de tomar cerveja, mas de estar bêbado não gosto.” Clarice: “Como é que você sente que vai nascer uma canção?” Tom: “As dores do parto são terríveis. Bater com a cabeça na parede, angústia, o desnecessário do necessário são os sintomas de uma nova música nascendo. Gosto mais de uma música quanto menos mexo nela. Qualquer resquício de savoir-faire me apavora. Gosto de colaborar com quem amo: Vinícius, Chico Buarque, João Gilberto, Newton Mendonça e Dolores Duran.”

terça-feira, 19 de maio de 2009

O próximo POST será sobre música (resenha/conto), ECA!



Quando o coração é dominado pela paixão e seus olhos só buscam enterrar-se nos seios pretendidos, não há nada. Nada mesmo. Que possa impedir os tais libidinais desejos humanos. Rosas, bombons vaginais e pouca roupa. É isso que você precisa.

Beijos e Abraços...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Montamos Complexos Pianos Eletrônicos. Ainda Temos Neuroses Comunicativas.




Maldito ato falho peculiar psicoproblemático. Acidente infiel, barbaridade indecente. Ainda bem! Você está falando, o que é para ser falado, proclamando, conquistando, profetizando. Mas é aí que o estardalhaço toma forma – uma muito feia. Alguém gesticula os primeiros músculos labiais para te interromper, por um gracejo de probabilidade divina, ela percebe o ato infeliz e pára, som algum sai da ex-boca ex-aliada. O estrago já foi feito, você percebeu a onda da digníssima a sua frente e se calou. MUDO! Mudo estou eu...


Simples movimento facial e tamanha merda.

domingo, 26 de abril de 2009

Raios! RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRaios!


Ela esta por aqui! Consegue ver? Alí, ó! Já sumiu! Aquela mesma sensação que temos quando praticamos nado de costas: impossível se concentrar totalmente na natação, impossível nadar e ver quão perto a borda da piscina está. Oras, quem quer esmagar a cabeça e morrer? Ninguém quer bater as botas porcausa de uma borda de piscina assassina. Tentamos, ao mesmo tempo e sem obter sucesso, nadar e não nos machucar. Preocupação inutil essa, na minha opinião! Mortal mesmo é o amor. Mais mortal que Beethoven e seus colegas, aquela cambada de surdos geniais, quando declamam poesia e regem orquestras paradisíacas (pro INFERNO com a Nona Sinfonia). Se for me telefonar, faça isso antes que o açougue abra! AHHHHH RRRRRRRRRRRRRRRRRRRAIOSSSSS!!!!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Lembro de tudo. Menos do título...



Juro que vim aqui pegar algo. QUE OS CÉUS CAIAM SOBRE MIM, SE ISSO FOR CALÚNIA. Lembro de tantas coisas. Aquelas lembranças que há cinco segundos atrás, não estavam em lugar algum, mas agora estão. Elas bem que podiam estar nas Bahamas, procurando o que fazer. Mas não, estão aqui e parecem gargalhar ao me verem desnorteado, a ponto de não lembrar o que vim pegar por aqui. Do quarto até a sala, são três passos e meio, direita, esquerda, direita esquerda, direita esquerda e direita. Não sei bem quantas sinapses nervosas, mas deve estar na casa dos milhões. Há seis, quer dizer, há quatro segundos atrás, eu sabia exatamente o que queria. Agora não sei mais. Era algo simples: pensar na necessidade de pegar algo em outro cômodo (idéia que surge da própria necessidade de pegar algo no outro cômodo), locomover para o outro cômodo (isso pode ser feito em pouquíssimo tempo por nós) e pegar o safado – caso eu lembrasse o que era. “Que isso gente! Acontece com todo mundo. Não se preocupe”. Bom, morrer, também acontece com todo mundo e eu me preocupo. Minhas preocupações: amor, sexo e morte. Mas agora, tenho de me preocupar com esquecimentos pouco imaginativos como esses. Se pelo menos tivessem me deixado umas sanfonas e uns violinos. Aí seria esquecimento com música psicodélica.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Odetta! The Queen.




Trimiliques, tremedeiras e não sei mais o que. Arrepios periodicamente irregulares, mas sem suor algum. Devia ser o frio. Frio? Frio de que? De onde? Amanha mesmo eu compraria um termômetro novinho em folha...Podia ser malária! Podia sim. Mas não era. Malária não deixa ninguém sorrindo. La Cucaracha quando bem cantada nos faz sorrir. Tom Jobim fazendo um grego sambar pelos morros cariocas nos faz sorrir. Poesia alemã e cerveja podem até matar, mas ainda sim constroem sorrisos por onde passam. E Odetta que também faz sorrir, parecia brincar comigo, parecia se divertir ao me ver daquela forma: perturbado até os dentes e sorrindo de orelha a orelha. Ela tinha que parar de catar. Eu precisava desligar a música. Aquilo estava acabando comigo. Mas eu não conseguia! Odetta e sua voz, declamando as canções que inspiraram Bob Dylan, Janis Joplin e Joan Baez colocava nos meus ouvidos e amaravilhava meu cérebro com seu blues-jazz próprio dos anos 60, sem deixar de lado uma quase implícita simplicidade que provinha das experiências folks que viveu em São Francisco.


Havia tempos que algo musical não surtia um efeito tão devastador em mim. Sim, sim, eu já conhecia “The Queen of American folk music” – nomenclatura dada por Martin Luther King Jr. – há alguns anos, mas ela nunca tinha me deixado sem dormir. Odetta que morreu dia 2 de dezembro do ano passado – dia do meu aniversário – conseguiu ser mais mortal que o amor e causar mais calafrios fantasiosamente agradáveis que Robert Johnson em seus dias mais sombrios. Era daquelas que entregava mais que o próprio coração quando cantava. Mesmo a própria vida era pouco para dar de presente à música.


Ela cantou músicas de Bob Dylan já em 1965. Homenageou sua amiga Ella Fitzgerald no álbum To Ella. Foi uma das pioneiras do folk, durante o renascimento comercial do gênero nos anos 50, fazendo uma série de shows acompanhada apenas de “Baby” (um violão feito por ela mesma). Escreveu e interpretou belas canções de Blues, experimentando também arranjos mais complexos quando se juntava a uma banda para tocar jazz. Spirituals songs fizeram parte de seu repertório, envolvendo-se também em movimentos a favor dos direitos civis dos negros. Foi atriz. Foi divorciada – 2 vezes. Foi a primeira “coisa” que levou Bob Dylan a música folk. Foi uma credencial para tornar Janis Joplin querida entre os rapazes. Foi minha maravilhosa insônia por uma noite, em que sua música me consumiu por completo.


Download Odetta - And The Blues

(ww.megaupload.com/?d=77SNQTDZ)

*Acresce "w" e cole no espaço de endereços de sites no navegador



  1. "Hard, Oh Lord"
  2. "Believe I'll Go"
  3. "Oh, Papa"
  4. "How Long Blues"
  5. "Hogan's Alley"
  6. "Leavin' This Morning"
  7. "Oh, My Babe"
  8. "Yonder Comes the Blues"
  9. "Make Me a Pallet on the Floor"
  10. "Weeping Willow Blues"
  11. "Go Down, Sunshine" - 2:21
  12. "Nobody Knows You When You're Down and Out"


domingo, 29 de março de 2009

The Super, Super Blues Band



Tempos difíceis para o Blues!


Nos finais dos anos 60, a Chess Records já não ia bem das pernas e Leonard Chess não ia bem do coração. Haviam sido 20 anos, nos quais Chicago, muito mais do que ter respirado intensamente o Blues, teve-o como formador de sua identidade: a conexão explicita entre a “sujeira” sulista americana e o desenvolvimento urbano explosivo pós Segunda Guerra. Se você era negro, cansado de surrar suas mãos naquelas plantações algodoeiras, ou se a calma dos campos quase explodia sua cabeça trazendo a tona os terrores da guerra, Chicago era a sua cura – ou a sua desgraça. E Leonard Chess, um polonês “moribundo” e branco, quando, junto de seu irmão Phil, fundou a Chess Records em 1950, pensando apenas em ter seu próprio Cadillac, nunca havia imaginado que seria o responsável por transformar o Blues no combustível musical de Chicago, lançado Muddy Waters, Hownling Wolf, Chuck Berry, Buddy Guy e muitos outros.


Uma das grandes ironias do rock and roll foi o modo como ele desbancou o Blues. Uma quase história de filho que se torna melhor que o pai, ou do discípulo que vence o próprio mestre. Todos sabiam que os Beatles, os Rolling Stones, Led Zeppelin, Eric Clapton ficariam famosos. O Blues e o rock de Chuck Berry eram suas raízes, eles apenas tocavam isso mais rápido e eram brancos.

De meados da década de 60, até 1970, a Chess Records procurou formas de agüentar a onda branca do rock and roll. Nesse período surgiram grandes jams entre os integrantes do selo, álbuns com um aspecto mais informal, muito paltados no “feeling” e com bastante improvisações nos vocais e nas guitarras, o que acabou remetendo a essência de liberdade musical do Blues, mas ainda com arranjos bem modernos e trabalhados. Infelizmente, não era mais tão cool assim tocar Blues, e essas grandes obras não receberam o valor merecido.


Em 1968, um ano antes dos irmãos Chess venderem sua gravadora e Leonard morrer de complicações cardíacas, Bo Diddley, Muddy Waters e Howling Wolf tiveram uma idéia, enquanto se embriagavam naquelas boas e velhas noites alcoólicas de Chicago. Formar uma super banda de Blues. Claro, que debateram extensamente o assunto, porque esse negócio de montar banda era considerado coisa de branco e obviamente, era difícil ajeitar as idéias com todo aquele whisky na cabeça.


The Super Super Blues Band – nome bem criativo – foi criada poucos dias depois. Os três colocavam sangue, suor, amor e loucuras alcoólicas em suas guitarras – Howling Wolf também cuidou da gaita – sendo acompanhados em segundo plano por piano, baixo e algumas backing vocals. O resultado foi estupendo justamente por nos levar às raízes do blues de uma forma diferente. Eles não procuraram um som mais rural e simples, mas sim, tocar músicas que gostavam, dialogando livremente um com outro. Nas músicas é possível ouvir vários improvisos de guitarras e conversas cantadas. Há uma real conexão entre os três bluesmen.


Em I´m a Man, interpretação para Manish Boy de Willie Dixon, Bo Diddley exclama “I´m a mannnnnnnn” e obtém como resposta de Muddy Waters “You ain´t no man...man, I´m a man...” e vai desenrolando a música, improvisando com partes de Manish Boy e partes inventadas, alternando-se com Bo Diddley na cantoria. Os uivados de Howling Wolf em Long Distance Call assustam as backing vocals, como se fossem realmente feitos por lobos. E as invenções são tantas, que a música passa a ter 9 minutos, nem um pouco enjoativos. A maior amostra da informalidade do trabalho fica na faixa Diddley Daddy, em que Bo Diddley acompanhado das backing vocals entoam o carismático refrão “Diddley, diddley, diddley, diddley, daddy” e depois desafiam os outros dois a cantar o refrão, “I don´t believe you can do it, Muddy”.


Na época do lançamento desse álbum, entitulado Long Distance Call, muitos o acusaram de ser um trabalho mal feito, em que as três lendas fizeram tudo às pressas e não tiveram grandes cuidados na preparação do disco. Entretanto, essa liberdade era a idéia central. Tentar gravar uma reunião descompromissada de amigos que tinham em comum o gosto pelo Blues. No fundo no fundo, eles queriam resgatar um pouco da essência do ritmo que perdia cada vez mais a sua cara, devido aos bonitos Cadillacs estacionados nas casas dos bluesmen e ao surgimento do rock and roll.




Download The Super Super Blues Band - Long Distance Call

(http://ww.easy-share.com/1904116080/MBSSBB.rar)

*apenas acrescente "w" para formar "www" e cole na barra de endereços.

*senha mississippimoan


Tracklist:

1 - Long Distance Call

2 - Ooh baby / Wrecking My Love Life

3 - Sweet Little Angel

4 - Spoonful

5 - Diddley Daddy

6 - The Red Rooster

7 - Goin´ Down Slow






quarta-feira, 11 de março de 2009

The .357 String Band - Não é bem o bluegrass do seu vôvo, é STREETGRASS!!!




“Eles estavam tocando bluegras” a velhinha disse.

“Bluegrass não é o que chamaria isso” o velhinho respondeu.

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Dentre todas as gangues malvadas das quais fui membro, nunca pensei que encontraria, logo em Milwaukee (Wisconsin), rapazes tão durões quanto aqueles. Eram apenas quatro e não tinham caras de genros bonzinhos. Isso mesmo, queridinha. Sua mamãe não gostaria de conhece-los. O tipo de pessoas que as outras chamam de má companhia. Tatuagens – tatuagens de macho – botinas que rosto algum iria esquecer se as encontrasse pelo caminho, camisas pretas ou de caminhoneiro, e o principal, nada de sorrisos marotos. Foras-da-lei cheios de classe. É isso o que eram.


Não foi me dito seus nomes. Era parte do código das gangues daquela época – hoje em dia, não acredito que ainda haja esse tipo de coisa. Também, nunca disse o meu a eles, mas caso tivessem perguntado, diria que era Motoqueiro Fantasma, ou Jimi Hendrix. Mesmo assim, passamos pelos melhores momentos que cinco lunáticos, apaixonados por vacas, bacalhaus e sucos psicodélicos, poderiam ter passado.


Cowboys, hippies, palhaços pouco engraçados, mulheres da vida, palhaços realmente engraçados, punks de verdade, motoqueiros, garçonetes rechonchudas, belas garçonetes, todo o tipo de gente bêbada, encontramos todos esse pessoal barra pesada pelo caminho. Fizemos boas amizades. Cheguei a me casar com três garotas diferentes, já casadas, ao mesmo tempo. Uma noite, em uma encruzilhada, demos carona a um tal de Johnson. Apesar de calado, era um bom rapaz. Posso dizer também, que tocava o Blues como ninguém. Nenhum de nós soube dizer, de que maneira ele tirava aquele som de um violão tão estragado. Infelizmente, o bluesman desapareceu na manha seguinte. E nunca mais ouvimos falar dele.


O que nos manteve vivos nesta odisséia, foi o que meus amigos chamavam de AMPHETAMINE-FUELED STREETGRASS. Não! Não era um novo tipo de droga e sim, o som da banda daqueles quatro, chamada The .357 String Band. Uma espécie de bluegrass acelerado. Algo como um punk, cheio de anfetaminas na cabeça, vestido de cowboy e surrando um banjo a toda velocidade, ao mesmo tempo em que canta chapadão. Sendo que, vez ou outra misturava algumas viagens interessantes, mas nunca esquecendo de tocar o bom e velho bluegrass.


Nas músicas Little Black Train of Death e Fire & Hail, pude ver do que a banda era realmente feita. O bluegrass clássico, acompanhado pela linda voz de uma das moças com que me casei durante a viagem, na música Hold Me Tight, fez com que eu acreditasse, por alguns instantes, que eles poderiam ser seres com corações de verdade. E Blackship foi feita em dos raros momentos que estávamos acordados, sem o efeito daqueles comprimidinhos azuis, o que gerou algo bem diferente do que havíamos previsto.


Depois disso, nunca mais vi aqueles quatro foras-da-lei. Espero que não estejam presos...



*cole o link abaixo em seu navegador, adicionando a letra 'w'.

Download álbum Fire & Hail (http://ww.mediafire.com/download.php?sjjsxjn3ehg)



1 - Little Black Train Of Death

2 - Fire & Hail

3 - One More Round

4 - Cluck Ol' Hen

5 - Black River Blues

6 - Down On A Bender

7 - Glory, Amen

8 - Holy Water

9 - I'm Gone

10 - Hold Me Tight

11 - Darleen

12 - Long Put Down That Gospel

13 - Two White Horses

14 - Rollin' Down The Track

15 - Blackship