domingo, 29 de março de 2009

The Super, Super Blues Band



Tempos difíceis para o Blues!


Nos finais dos anos 60, a Chess Records já não ia bem das pernas e Leonard Chess não ia bem do coração. Haviam sido 20 anos, nos quais Chicago, muito mais do que ter respirado intensamente o Blues, teve-o como formador de sua identidade: a conexão explicita entre a “sujeira” sulista americana e o desenvolvimento urbano explosivo pós Segunda Guerra. Se você era negro, cansado de surrar suas mãos naquelas plantações algodoeiras, ou se a calma dos campos quase explodia sua cabeça trazendo a tona os terrores da guerra, Chicago era a sua cura – ou a sua desgraça. E Leonard Chess, um polonês “moribundo” e branco, quando, junto de seu irmão Phil, fundou a Chess Records em 1950, pensando apenas em ter seu próprio Cadillac, nunca havia imaginado que seria o responsável por transformar o Blues no combustível musical de Chicago, lançado Muddy Waters, Hownling Wolf, Chuck Berry, Buddy Guy e muitos outros.


Uma das grandes ironias do rock and roll foi o modo como ele desbancou o Blues. Uma quase história de filho que se torna melhor que o pai, ou do discípulo que vence o próprio mestre. Todos sabiam que os Beatles, os Rolling Stones, Led Zeppelin, Eric Clapton ficariam famosos. O Blues e o rock de Chuck Berry eram suas raízes, eles apenas tocavam isso mais rápido e eram brancos.

De meados da década de 60, até 1970, a Chess Records procurou formas de agüentar a onda branca do rock and roll. Nesse período surgiram grandes jams entre os integrantes do selo, álbuns com um aspecto mais informal, muito paltados no “feeling” e com bastante improvisações nos vocais e nas guitarras, o que acabou remetendo a essência de liberdade musical do Blues, mas ainda com arranjos bem modernos e trabalhados. Infelizmente, não era mais tão cool assim tocar Blues, e essas grandes obras não receberam o valor merecido.


Em 1968, um ano antes dos irmãos Chess venderem sua gravadora e Leonard morrer de complicações cardíacas, Bo Diddley, Muddy Waters e Howling Wolf tiveram uma idéia, enquanto se embriagavam naquelas boas e velhas noites alcoólicas de Chicago. Formar uma super banda de Blues. Claro, que debateram extensamente o assunto, porque esse negócio de montar banda era considerado coisa de branco e obviamente, era difícil ajeitar as idéias com todo aquele whisky na cabeça.


The Super Super Blues Band – nome bem criativo – foi criada poucos dias depois. Os três colocavam sangue, suor, amor e loucuras alcoólicas em suas guitarras – Howling Wolf também cuidou da gaita – sendo acompanhados em segundo plano por piano, baixo e algumas backing vocals. O resultado foi estupendo justamente por nos levar às raízes do blues de uma forma diferente. Eles não procuraram um som mais rural e simples, mas sim, tocar músicas que gostavam, dialogando livremente um com outro. Nas músicas é possível ouvir vários improvisos de guitarras e conversas cantadas. Há uma real conexão entre os três bluesmen.


Em I´m a Man, interpretação para Manish Boy de Willie Dixon, Bo Diddley exclama “I´m a mannnnnnnn” e obtém como resposta de Muddy Waters “You ain´t no man...man, I´m a man...” e vai desenrolando a música, improvisando com partes de Manish Boy e partes inventadas, alternando-se com Bo Diddley na cantoria. Os uivados de Howling Wolf em Long Distance Call assustam as backing vocals, como se fossem realmente feitos por lobos. E as invenções são tantas, que a música passa a ter 9 minutos, nem um pouco enjoativos. A maior amostra da informalidade do trabalho fica na faixa Diddley Daddy, em que Bo Diddley acompanhado das backing vocals entoam o carismático refrão “Diddley, diddley, diddley, diddley, daddy” e depois desafiam os outros dois a cantar o refrão, “I don´t believe you can do it, Muddy”.


Na época do lançamento desse álbum, entitulado Long Distance Call, muitos o acusaram de ser um trabalho mal feito, em que as três lendas fizeram tudo às pressas e não tiveram grandes cuidados na preparação do disco. Entretanto, essa liberdade era a idéia central. Tentar gravar uma reunião descompromissada de amigos que tinham em comum o gosto pelo Blues. No fundo no fundo, eles queriam resgatar um pouco da essência do ritmo que perdia cada vez mais a sua cara, devido aos bonitos Cadillacs estacionados nas casas dos bluesmen e ao surgimento do rock and roll.




Download The Super Super Blues Band - Long Distance Call

(http://ww.easy-share.com/1904116080/MBSSBB.rar)

*apenas acrescente "w" para formar "www" e cole na barra de endereços.

*senha mississippimoan


Tracklist:

1 - Long Distance Call

2 - Ooh baby / Wrecking My Love Life

3 - Sweet Little Angel

4 - Spoonful

5 - Diddley Daddy

6 - The Red Rooster

7 - Goin´ Down Slow






quarta-feira, 11 de março de 2009

The .357 String Band - Não é bem o bluegrass do seu vôvo, é STREETGRASS!!!




“Eles estavam tocando bluegras” a velhinha disse.

“Bluegrass não é o que chamaria isso” o velhinho respondeu.

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Dentre todas as gangues malvadas das quais fui membro, nunca pensei que encontraria, logo em Milwaukee (Wisconsin), rapazes tão durões quanto aqueles. Eram apenas quatro e não tinham caras de genros bonzinhos. Isso mesmo, queridinha. Sua mamãe não gostaria de conhece-los. O tipo de pessoas que as outras chamam de má companhia. Tatuagens – tatuagens de macho – botinas que rosto algum iria esquecer se as encontrasse pelo caminho, camisas pretas ou de caminhoneiro, e o principal, nada de sorrisos marotos. Foras-da-lei cheios de classe. É isso o que eram.


Não foi me dito seus nomes. Era parte do código das gangues daquela época – hoje em dia, não acredito que ainda haja esse tipo de coisa. Também, nunca disse o meu a eles, mas caso tivessem perguntado, diria que era Motoqueiro Fantasma, ou Jimi Hendrix. Mesmo assim, passamos pelos melhores momentos que cinco lunáticos, apaixonados por vacas, bacalhaus e sucos psicodélicos, poderiam ter passado.


Cowboys, hippies, palhaços pouco engraçados, mulheres da vida, palhaços realmente engraçados, punks de verdade, motoqueiros, garçonetes rechonchudas, belas garçonetes, todo o tipo de gente bêbada, encontramos todos esse pessoal barra pesada pelo caminho. Fizemos boas amizades. Cheguei a me casar com três garotas diferentes, já casadas, ao mesmo tempo. Uma noite, em uma encruzilhada, demos carona a um tal de Johnson. Apesar de calado, era um bom rapaz. Posso dizer também, que tocava o Blues como ninguém. Nenhum de nós soube dizer, de que maneira ele tirava aquele som de um violão tão estragado. Infelizmente, o bluesman desapareceu na manha seguinte. E nunca mais ouvimos falar dele.


O que nos manteve vivos nesta odisséia, foi o que meus amigos chamavam de AMPHETAMINE-FUELED STREETGRASS. Não! Não era um novo tipo de droga e sim, o som da banda daqueles quatro, chamada The .357 String Band. Uma espécie de bluegrass acelerado. Algo como um punk, cheio de anfetaminas na cabeça, vestido de cowboy e surrando um banjo a toda velocidade, ao mesmo tempo em que canta chapadão. Sendo que, vez ou outra misturava algumas viagens interessantes, mas nunca esquecendo de tocar o bom e velho bluegrass.


Nas músicas Little Black Train of Death e Fire & Hail, pude ver do que a banda era realmente feita. O bluegrass clássico, acompanhado pela linda voz de uma das moças com que me casei durante a viagem, na música Hold Me Tight, fez com que eu acreditasse, por alguns instantes, que eles poderiam ser seres com corações de verdade. E Blackship foi feita em dos raros momentos que estávamos acordados, sem o efeito daqueles comprimidinhos azuis, o que gerou algo bem diferente do que havíamos previsto.


Depois disso, nunca mais vi aqueles quatro foras-da-lei. Espero que não estejam presos...



*cole o link abaixo em seu navegador, adicionando a letra 'w'.

Download álbum Fire & Hail (http://ww.mediafire.com/download.php?sjjsxjn3ehg)



1 - Little Black Train Of Death

2 - Fire & Hail

3 - One More Round

4 - Cluck Ol' Hen

5 - Black River Blues

6 - Down On A Bender

7 - Glory, Amen

8 - Holy Water

9 - I'm Gone

10 - Hold Me Tight

11 - Darleen

12 - Long Put Down That Gospel

13 - Two White Horses

14 - Rollin' Down The Track

15 - Blackship