quinta-feira, 9 de julho de 2009

Façanhas Cubanas II - A PEREGRINAÇÃO



Steven Seagal interpretando o mesmo policial renegado durão tímido e mortal de sempre, que ainda encontra dificuldade para falar sobre amor, enfrentando dente por dente a máfia russa de prostituição infantil, era tudo que eu precisava para aquela viajem de 12 horas que estava por vir, de Trinidad a Santiago de Cuba. O carregador de malas confundiu-se com nossos bilhetes – devíamos estar realmente loucos para tentar fazer uma peregrinação daquele porte, por selvas socialistas pouco desbravadas. Não sabíamos o que esperar, mas havíamos decido: estamos nessa até o fim.


É preciso muita fibra para fazer o que Seagal estava prestar a começar. Os russos são da pesada, cheios de olhares secos nórdicos e bafos de vodka, eles não brincam em serviço. Russos carnívoros, esses sim, são os mais inescrupulosos.


Cuidado Seagal! O senhor deve saber, suas andanças pelos territórios dos delinqüentes asquerosos hollywoodianos são lendários, mas lembre-se, e isso é quase uma súplica que faço, aprenda ballet. Os russos não agüentam, pedem misericórdia a quem quer que seja e no final, se é que sobrevivem ao processo, estão acabados – dados por vencidos, como pobres coitados. Se de Trinidad há Santiago são 12 horas, dou-lhe a metade da metade disso para que esses porcos louros aproveitadores de criancinhas estejam agonizando. Não! Faça pior que isso.


Pela seriedade com que mergulhei na fantasia do filme pude ter certeza que minha capacidade de fazer qualquer juízo de valor, de ética, de bom senso e de quaisquer outros pontos importantes para poder considerar-me um cidadão respeitável estavam abalados. Não que já não estivessem antes, mas essa completa falta de equilíbrio me colocava em uma posição de total falta de controle e total falta de controle em situações onde russos malditos estão a espreita não é algo que alguém realmente preocupado com boas maneiras e estabilidade mental preze.

Ao desembarcarmos em Santiago de Cuba, tomou forma sobre nós uma cena psicodélica, mas não hamorniosamente psicodélica como dançar tango peladão e alucidado com sua donzela amada, mas psicodélica a ponto de fazer muito mal ao estomago. Um taxista e seus pelos do peito, das costas e do pescoço saindo pra fora de sua camisa regada apertadinha, o que deixava tudo mais glamouroso, pois ele era um tremendo gordinho, nos arrastou para seu táxi. Uma banheira velha que nem sei como as portas abriam ou ainda estavam lá e falou que nos levaria a casa em que ficaríamos hospedados, mas antes, é claro, ele teria o maior prazer de levar-nos à sua própria casa e talvez pudéssemos decidir ficar por lá e ao mesmo tempo em que falava, ligou em volumes colossais uma dance music que me parecia ser de meados da década de 90, um período bem negro. Nesse momento quase perdi as esperanças. O tranqüilizador pensamento de que em Cuba não há armas e ninguém fará mal físico a você desapareceram. O calor úmido, vetor de todo o suor, em nada floriam a situação em si.

O mais incrível de toda a travessia foi chegarmos a salvo em uma casa rodeada por uma atmosfera familiar incrível, com duas crianças completamente angelicais, de sorrisos encantadores, o que me fez, pela primeira vez na vida, pensar que a possibilidade de me casar e ter filhos poderá soar um pouco atrativa algum dia.

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