sábado, 7 de fevereiro de 2009

Buddy Guy - Danmmm, He stil got the BLUES!




Beacon Theatre, Nova York. Os Rolling Stones (e todos seus adjetivos colossais e infinitos) gravavam o filme/show Shine a Light.


Mick Jagger - “Agora nos vamos tocar uma canção escrita por... Na verdade, não sei se ela foi escrita por Muddy Waters, mas a primeira vez que a ouvi, era Muddy Waters que tocava. Chama-se Champagne and Reefers. E Buddy Guy vai nos ajudar”.


*Mesmo depois de décadas, os deuses do rock ainda precisam do blues para continuar respirando.


25 de setembro de 1957, à noite. George Guy chega a Chicago. A roupa que usava e o violão eram seus pertences. O inverno estava chegando e ele não tinha lugar para ficar. Teria que dormir na rua. Para falar a verdade, nas primeiras impressões, à terra sagrada do Blues não estava parecendo nada promissora para aquele moleque de 21 anos, que havia agüentado, sem dormir, mais de dez horas em um ônibus apertado e sujo. O pequeno vilarejo sem eletricidade, onde havia nascido, em algum lugar de Louisiana, parecia muito mais acolhedor naquele momento.


Três dias sem comer. Ou será que haviam sido quatro? Não tinha como saber. Chicago se transformara no inferno. Toda aquela rapidez. Todo aquele barulho. Toda aquela gente. “Foda-se Chicago. Vou voltar para Louisiana”. Nem isso ele podia fazer. Não tinha sequer alguns míseros centavos para usar o telefone e pedir que sua mãe lhe enviasse o dinheiro da passagem. Então, resolveu pedir dinheiro a um homem que passava na rua.

“Você sabe tocar o Blues?”.

“Com toda a certeza, eu sei tocar o Blues”.

“Então, toque uma música”.

“Só se você me pagar um hambúrguer”.

“Oras, se eu te der um hambúrguer, você ira perder o incentivo de tocar, assim que terminar de come-lo”.


Guy não ganhou o hambúrguer, mas aceitou uma taça de vinho. Ahhh! Os primeiros goles! Quase o derrubaram. Ele agüentou firme e de repente começou a sentir. Sentir o Blues, sentir o MOTHERFUCKER BLUES. Seu corpo e o violão pareciam um só, na verdade, agora, eles eram um só. O homem, impressionado com o som que aquele garoto criava, soltou a clássica frase das noites de Chicago, “Motherfucker you can play the Blues!” e tratou de leva-lo para o 708 Club, onde Otis Rush tocava naquela noite. Chegando ao blues-bar-joint o misterioso companheiro de Guy chamou Rush e disse “Hey, esse garoto vai te deixar maluco”. Sem demoras, o músico da noite mandou o recém-chegado à Chicago subir no palco.


Ele subiu e tocou como um homem que não comia por três dias. Ele sentiu o Blues. Ele era o Blues. Muddy Waters foi acordado no meio da noite e ao ouvir o som pelo telefone, saiu correndo de pijamas para local. O 708 Club estava pegando fogo. A platéia, influenciada pela música e pela bebida não parava de jogar dinheiro para o garoto. A partir desse momento, George Guy ia dando lugar a um dos maiores representes do Chicago Blues de todos os tempos, Buddy Guy.


No final da noite, quando perguntaram-no sobre o que faria com o dinheiro que ganhara, sua resposta foi simples “Vou comprar um hambúrguer”.


Mais de 50 anos depois de sua primeira apresentação em Chicago e sendo o ultimo grande nome vivo (B.B. King começou em Memphis) daquela cena, o bluesman não deixa de representar seus velhos amigos – Muddy Waters, Little Walter, Howling Wolf – de maneira sincera e grandiosa. Continua a modernizar o Blues, sem deixar que sua essência se perca. Prova maior disso é o lançamento de Skin Deep em 2008, seu primeiro trabalho totalmente de composições próprias e inéditas. O título desse álbum veste-o perfeitamente. Buddy Guy vai lá no fundo, vasculha por tudo quanto é canto, arranca um pouquinho daquilo ali, morde mais um tanto daquilo lá, sangra, cospe e sorri, sempre acompanhado de sua guitarra de bolinhas brancas. Um blues denso, imprevisível, emocionante e ainda fácil de se ouvir. O Blues de Chicago, nem tão puro quanto nos anos 60, mas ainda sim, o Blues de Chicago.


Nesse projeto, o que mais me impressiona é a intensidade instrumental das canções, principalmente em Show Me The Money. Sua introdução é tão magnífica, que fiquei aqui, tentando descreve-la e não consegui. A única coisa que posso falar é que seu ápice acontece quando uma poderosa voz feminina canta maravilhosamente “SHOWWWWWW ME THE MONEYYYYY” e a partir daí, a deliciosa e poderosa música começa.


É pela música Every Time I Sing The Blues, na qual Eric Clapton participa, que sabemos porque ele é considerado como Elvis para o bluesman inglês. E no final das contas, através dos riffs bem colocados por todo o álbum, podemos entender o porque de Buddy inspirar tanto Jimmy Hendrix.


Buddy Guy! Uma espécie em extinção. Ao lado de B.B. King, representa o ultimo suspiro do old-and-good-Blues-times.


Download Buddy Guy - Skin Deep (2008)



01. Best Damn Fool (feat. The Memphis Horns/Willie Mitchell)
02. Too Many Tears (feat. Derek Trucks/Susan Tedeschi)
03. Lyin' Like A Dog
04. Show Me The Money
05. Everytime I Sing The Blues (feat. Eric Clapton)
06. Out In The Woods (feat. Robert Randolph)
07. Hammer And A Nail
08. That's My Home (feat. Robert Randloph)
09. Skin Deep (feat. Derek Trucks)
10. Who's Gonna Fill Those Shoes (feat. Quinn Sullivan)
11. Smell The Funk
12. I Found Happiness



Buddy Guy tocando Sweet Home Chicago

Buddy Guy e B.B. King tocando I Can´t You Baby

Buddy Guy tocando Voodoo Chile



Nenhum comentário:

Postar um comentário